Daí o galego e a austríaca, fugindo de seus tiranos, encontraram-se e fizeram-se paulistanos numa ladeira além de Santana, travessa de uma avenida com nome bonito: Pauliceia. Compraram o que deu em terreno, construíram na esquina uma mercearia à frente de um casarão e, lá embaixo, um sobradão; subiram dois sobradinhos geminados e, do outro lado, deixaram dois lotes para os meninos. Os filhos cresceram, casaram e de cada sobradinho vieram três meninos, nascendo como aos pares: chegava um e, pouco depois, outro no vizinho.
Seis primos soltos na vizinhança, como era ser criança. Os laços consanguíneos viravam nós duplos, triplos. Mamona e pedra na cabeça, joelho e dente no asfalto. Linha dez, com cortante ou não, da lata de Mazola a rabiola do peixinho ou maranhão. Bola se jogava com a mão. O juízo saía à francesa para acordar na Parada Inglesa. No terreno que não virou casa tudo dava: nêspera aveludada, treta e porrada. Os anjos da guarda trocavam plantão com o Bruno, farmacêutico, paramédico e mãe de santo. O mundo sobrava na Feliciano Bicudo!
Às vezes as coisas acontecem sem explicação e sem apoio na fé ou na razão. Um câncer absurdo levou muito muito cedo o mais forte, esperto e elétrico de nós. Malandro como o gato, nasceu sabendo o que nenhuma escola ensina: viver a porra da vida! Sempre na função ou, abrindo a massa, o vinho, o queijo, o carneiro ou sei lá o bicho, com um vozeirão de vulcão, tirava onda de qualquer situação. Hoje então, assim sem mais, sempre que ouvir um trovão saberei do meu primo e meu primeiro melhor amigo chegando e causando.