Se está embaçado correr com os pulmões nublados como as tardes de verão em SP, eu ando. Ato involuntário, é como respirar, digerir ou apaixonar-se.
Da baixada entre a escadaria Tim Maia e a praça do Pôr do Sol costuro a Vila Madalena evitando o beco do Batman porque não sou turista até o espigão da Paulista. Não sabia que a feira da Oscar Freire deixava livre as calçadas. Atrás do cemitério protestante tem um raro prédio novo e baixo.
Desço como estrada velha de serra a Bela Vista e cruzo a atravessada 14 Bis. A rua Rocha, apesar do predinho fofo em frente ao classudo com sobrenome esnobe ter virado um grandão escroto, é um charme. Seguem fachadas com as caras na calçada despojada com mesas de chapa suadas.
Subo uma rua sinuosa com sobrados insinuantes. Faço que me perco querendo que não acabe o colorido próprio do Bixiga. Para os que insistem, se o normal é andar entre grades, muros e carros; aqui, o que me separa das casas, quando não estão abertas ou esparramadas, são degraus e soleiras.
Sob o viaduto imundo, além da miséria esperada e da pelada na quadra inventada, uma bateria que só pode ser e é da Vai-Vai ensaia; de lado, a criançada matraqueia os tamborins. Desando rebolando sem jeito por dentro. A polícia passa, o Zé Celso acha graça e a Dona Yayá arrasta a sandália.
Sobre o viaduto do celebrado prédio do Artacho Jurado, do outro lado, vizinho ao célebre do Pilon e do Heep, o pernil do Estadão abunda! As árvores da Consolação viram as da São Luís e a energia do térreo do Copan atravessa a Vila Buarque. A polícia passa e um trio de bicicleta passeia na caça.
Os pilares vermelhos do terminal que apoiam o vai e vem dos carros no elevado, hoje, trabalham calmos. Os Filhos da Santa não ensaiam hoje? Hoje na Barra Funda, o negócio que não se requalifica não se cria. Coisa rara uma cerveja na calçada olhando a calma triste das casas e mais nada.
Andando ou correndo, essas jornadas querem chegar à minha filha e mostrar, para além do horizonte que ela abrace, que SP e ela se pertencem.
💯💯💯